Talvez amanhã, talvez!

Como tantas outras vezes encontro-me à porta do teu mundo, uma , duas, três vezes bato à tua porta…só depois me ouves, sorris , lábios entreabertos, um breve sorriso forçado, respondes apressado (afinal és um homem muito ocupado, as viagens, as reuniões e preocupações ocupam-te o tempo e o pensamento), e logo voltas a esse teu mundo , aquele em que à anos tento entrar mas a porta está sempre trancada, esqueces constante e propositadamente de entregar-me a chave…fazes isso com a certeza de quem sabe que sempre estarei aqui,, que não irei a lugar algum, afinal sempre assim foi, uns dias mais pacientemente outros menos, mas mantive-me à espera, de um sinal de mudança, de um sorriso, um carinho, um elogio espontâneo…
E é quase sempre nessa espera (solitária) que temos longos monólogos… é assim que aquieto o coração, engano o pensamento ou acalmo o sentimento…
Não te apercebes da minha tentativa de agarrar o tempo, de o tornar não só mais lento, mas mais prazeroso ao partilhá-lo contigo.
Tão poucos sorrisos partilhados, perdi a conta o quanto já esmolei por eles…
Sempre me questionei onde ou com quem os partilharias, sim, que ninguém vive continuamente sem alegrias e sorrisos espontâneos, nem mesmo tu.
Hoje, como tantas outras vezes, pensei deixar de bater-te à porta… talvez amanhã, quem sabe, talvez!..
Talvez depois percebas que lá fora a vida com toda a sua jovialidade corria … e quando finalmente abrires a porta, resolvido a abraça-la, te dês conta que o tempo passou e a levou...


Fátima Rodrigues